"Na igreja católica, o sistema papal impõe autoridade de um único homem sobre todo o povo. A distinção entre clérigos (padres, bispos, cardeais e o papa) e leigos (povo comum) eleva os sacerdotes católicos a um nível superior, como se revestidos de autoridade, carisma, espiritualidade inacessível, o que provoca admiração e espanto da gente comum, infundindo respeito e veneração. Há um gosto na alma brasileira por bispos, catedrais, pompas, rituais. Só assim consigo entender a aceitação generalizada por parte dos próprios evangélicos de bispos e apóstolos autonomeados, mesmo após Lutero ter rasgado a bula papal que o excomungava, queimando-a na fogueira. A doutrina reformada do sacerdócio universal dos crentes e a abolição da distinção entre clérigos e leigos ainda não permearam a cosmovisão dos evangélicos no Brasil, com poucas exceções.
Um dos requisitos para o apostolado no Novo Testamento é ser testemunha da ressurreição de Cristo. (At 1:21-22). Todos os apóstolos viram o Cristo ressurreto, inclusive Paulo (1Co 15:5-8). Não tiveram visão, sonho ou revelação, mas de fato Cristo lhes apareceu pessoalmente no corpo da ressurreição – inclusive a Paulo no caminho de Damasco (1Co 9:1). O cristianismo histórico sempre entendeu que Paulo foi o último (João na ilha de Patmos esteve diante de uma visão, e não de uma aparição física do Cristo ressurreto. (Ap 1:12-16)). Além disso, os apóstolos foram capacitados para operar sinais e prodígios dos quais não vemos correspondentes hoje (2Co 12:12). Por último, foram dotados de inspiração e infabilidade para escrever a Bíblia. Por esse motivo são chamados “fundamentos da igreja”, assim como os profetas do Antigo Testamento (Ef 2:20)
Na verdade, o termo “apóstolo” significa basicamente “enviado” e há quem, além dos doze e de Paulo, tenha recebido esse título na Bíblia, como Silas e Barnabé (At 14:14; 2Co 8:23). Porém, os modernos autodenominados apóstolos se entendem como na mesma categoria dos doze e de Paulo. Contudo, os doze e Paulo estão numa categoria à parte, não tendo nomeado sucessores. Quem sempre se achou sucessor dos apóstolos foi o papa. É somente o ranço católico na alma evangélica que permite que tais autodenominados apóstolos tenham sucesso em nosso meio."
Augustus Nicodemus – “O que estão fazendo com a Igreja?” – Pág 26 e 27
É formado em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte, de Recife, mestre em Novo Testamento pela Universidade Reformada de Potchefstroom (África do Sul), doutor em Interpretação Bíblica pelo Seminário Teológico de Westminster (EUA), com estudos no Seminário Reformado de Kampen (Holanda). Atualmente é chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pastor da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, em São Paulo, SP.
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